sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Sobre desencontros e decisões


Ele abriu a garrafa de prosecco e acendeu um cigarro. A lua estava enorme, fugiu para a janela para observá-la, depois deu dois tragos e me olhou. Ameaçou uma DR, provavelmente falaria que dancei muito colado com aquele cafajeste bonitão que me pegou para o bolero, talvez algum comentário sobre o meu batom vermelho, ou algo relacionado ao comprimento do meu vestido ou tamanho do decote. Antes que começasse com todo o roteiro clichê e machista, eu calei sua boca com um beijo, sem me importar com o hálito de nicotina e álcool. E durante muito tempo foi assim [...]

Pela manhã, suco de laranja, melão, cream cheese com torradas e inúmeras brigas. Pratos jogados contra a
parede na semana passada. Disse que me fiz de morta na cama e que não o procurei naquela terça do aniversário do Pedro. Viaja sem mim. Nem do cachorro ele gosta mais. Alguns troféus na estante, campeonatos de futebol de domingo, desses que ele passa o dia inteirinho longe de mim. Amor gasto. Bem-me-quer, mal-me-quer, bem-me-quer, mal-me-quer... a última pétala sempre denuncia. Aumenta o volume quando discorda sobre o almoço na sogra. Prefere rock, rua Augusta e cerveja. Para o jantar, só filé de frango, rúcula e silêncio. A falta de assunto dentro do carro a caminho do trabalho grita. Três discussões e um perdão. E novamente um desacordo. Dedos apontados na cara e preguiça de.

Ela se enfeitou com fitas no cabelo e preparou um jantar. Enquanto dançava e cantarolava pelo apartamento sorria ao imaginar mais um recomeço. As velas sobre a mesa. Um tulipa amarela para colorir mais um recomeço. Perfume de rosas e jasmim atrás das orelhas e nos pulsos. O preferido dele. Calcinha de renda vermelha para ele tirar com a boca e hidratante para ficar com a pele macia igual pêssego. Saltos altos e lábios carmim. Ele aceitou o convite para o happy hour com a turma do trabalho. Estava cansado de Publicidade e reuniões. Resolveu relaxar. Não ligou para avisar que chagaria tarde, não fez questão. Gravata folgada e camisa xadrez com dois botões abertos. Cerveja barata, amigos e algumas garotas na mesa de trás. UFC na TV LED. Discutiam se o São Paulo cairia ou não para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro, ele acreditava que não! Óbvio que não! Johnny Cash ecoava enquanto repousava o cigarro no cinzeiro branco de porcelana. Essa noite não terá brigas, ele pensava.

Se o encontro já se tornou um peso, então na vale mais a pena continuar a relação. Esse tipo de relação só irá fazer mal, será uma constante sessão de descarrego de frustrações um sobre o outro. Aí não há passado bonito que salve. Não adianta relembrar do aniversário de namoro de dois anos atrás na praia e da felicidade na viagem ao exterior. Lembre-se que todos os casais em crises foram felizes um dia. Se chegou ao fim, aceite o fim numa boa e olhe para o futuro. Se você ficar sozinho? Pegue a solidão e dança!

Do lado de dentro só um casal em crise sabe o quão angustiante pode ser levar adiante uma história desgastada. Existe a tristeza de desistir de toda a história vivida, a incerteza de descontinuar, o medo da solidão, a coragem para encarar a vida sem um par. Tudo isso aflige grande parte das pessoas e na maioria das vezes acaba mais fácil dar mais algumas dúzias de chances? Ser só no papel e não no viver é uma opção de quem não se ama. Viva sem peso! De nada vale aquele final de semana perfeito se a semana seguinte for de brigas e desencontros. Não adianta lembrar-se que gostava da maneira de como ele/ela era, é preciso gostar do jeito que se é hoje. E quando há desrespeitos, desconfianças e preguiça de diálogos e recomeços, esquece meu amigo, sua fórmula de relacionamento é furada, pesados, fadado ao fracasso. Saia da zona do conforto e volte ao cargo de solteiro novamente. Fundamental: não se desespere a procura de um substituto, nunca funciona! Faça agora mesmo, largue o osso e cante que chegou o momento da partida, aquele momento decisivo em que você optou pelo viver sem peso.