domingo, 13 de outubro de 2013

Uma crônica sobre corações inquietos que dizem SIM ao amor


É o seu cabelo, que de tão macio, faz meus dedos se perderem... E eu faria cafuné brega a noite toda em você, mesmo lá pelas 3 da manhã depois que a cerveja acabasse e eu sentisse aquela vontade gostosa de dormir agarrado ao seu quadril e cheirando sua nuca. É que você se encaixa tão gostoso no meu peito [...]




Suas pintas cor-de-chocolate nas costas, contrastando com a sua pele. Só você tem três pintas lindas no ombro, e elas são tão iguais e juntinhas, que eu disse ser a Constelação das Três Marias. Você disse sorrindo que não, e me contou que sua mãe disse serem a sua avó, você e ela. Acho que foi assim, não foi? Foi dessa forma que você me disse? É o jeito que você tira seus óculos grandes da mochila quando precisa ler alguma coisa importante, e os guarda novamente, dois minutos mais tarde. Tem também a sua voz, um tanto rouca, um tanto louca e confusa, que me diz coisas que só pessoas que sabem sorrir de bocas arreganhadas e sem pudores diriam. Coisas que, quando falamos, os olhos brilham e que deixamos no fundo, guardadas, por preguiça de mostrá-las para um alguém que não entenderia. Mas eu entendi quando você me disse e depois me beijou.

E por cima daqueles lençóis vagabundos, não éramos somente dois corpos sedentos um pelo outro. Estávamos também com nossos corações despidos. Vi o quanto preza pelas pessoas que ama e eu senti uma vontade enorme de fazer parte das coisas que você leva consigo. Quero dizer, fora essas coisas que você leva na sua mochila colegial branca, confesso que fiquei curioso para saber quais seriam os rabiscos escritos na capa do seu caderno de História.

-Eu já sofri pelo Gabriel, ele foi meu primeiro namorado. Foi embora para Amsterdam.
-É bonito.
-O Gabriel?
-Não, quero dizer que Amsterdam é bonito. Eu só vi por foto, mas eu tenho certeza que deve ser incrivelmente bonito; e eu também já fui deixado.
-Vê se não faz igual a todos os outros e não se vá sem motivos ou respostas. Promete pelo menos conversar comigo e não me deixar cheio de pontos de interrogação? É que eu já sei como é se despedaçar e não quero passar por isso novamente.
-E o que você fez?
-Quando eu fiquei aos cacos? Eu tive que aprender a me virar. Tinha a sensação de que o mundo era enorme, cheio de coisas desconhecidas, e eu senti medo da solidão, de não ter quem abraçar.
-São tantos os tontos...
-Que sentem medo quando ficam despedaçados e sozinhos?
-Não. Que tem medo de se entregar. Eu não deixaria você cair no chão novamente, por nada nesse mundo.

Não usaram palavras como especial, diferente ou qualquer coisa do tipo, apesar de terem se reconhecido no instante em que se olharam. Era o primeiro encontro, e não que isso fizesse diferença ou fosse alguma barreira para dar nome às suas emoções, mas era cedo demais para tentar nomeá-las; precisavam mover-se até os ponteiros se acertarem.

Não queriam ser um clichê empilhado de promessas. Ao invés de discutirem fidelidade e ciúme -previsível demais- trataram de levantar logo da cama e foram comer lanche natural com suco de maracujá, de madrugada mesmo, durante uma mordida e outra, planejaram mais “sim” ao invés de “não”, mais sorrisos, mais nudez e mais viagens. Sim à Campos do Jordão, sim às futuras parcerias e sim à forma mais bonita de se prender -sendo livre. Porque você é o meu porto seguro e o tudo o que eu preciso nesse exato momento é dormir com a sua cabeça no meu peito, sentindo seu cheiro.