terça-feira, 7 de outubro de 2014

Aquela promessa quebrada


Esse é nosso mês. Outubro. Faríamos uma ano. Seria o primeiro de cinquenta e seis –como gostávamos de brincar. E me lembrei daquela vez. Aquela, da viagem. A primeira vez que acreditei de verdade que me amava. O mar estava gostoso. Foi o verão mais quente de nossas vidas. E você disse que começou a gostar do calor por minha causa. Se pendurou no meu pescoço e as ondas bagunçavam o seu cabelo. Você estava linda. Me dizia coisas picantes ao pé do ouvido. Ali mesmo. De dia. Na praia. Ficamos de costas pra orla. Era eu, você o mar. Isso é amor né? [...]
Não tinha ressaca, a água era límpida e seu gosto salgado. E você ria. E eu me sentia a melhor pessoa do mundo. Eu tenho certeza que isso é amor. Seu sorriso faz falta. Hoje eu faria brigadeirão para você. Aquele que sua mãe me passou a receita. Comeria sorvete de creme com calda de caramelo. Juntaria os dois sofás da sua sala para ficarmos juntinhos. Eu sei que nós dois só precisávamos disso. Nada mais. E depois eu mexeria nas suas gavetas e riria quando tentasse decifrar o significado de cada souvenir ali guardado. E no domingo minha sogra faria bolo de doce de leite com limonada. Sua avó contaria histórias. E você me chamaria de ‘grande amor’. Mais uma vez. E me diria que tudo daria certo no final -como sempre. Eu elogiaria seu cabelo -outra vez. Quero você aqui. Pertinho. Uma vida inteira pra gastar. Quero mais daquela nossa foto de final de ano. Aquela com a decoração de natal da Paulista ao fundo. Aquela que prometemos repetir pelos próximos cinquenta e seis anos. Aquela que só temos uma. Aquela, da promessa quebrada.