quinta-feira, 5 de junho de 2014

O pedido de casamento que eu não fiz


A gente casa domingo meu amor, e pode ser do jeito que você sugeriu: Na praia e com trajes bem leves. Mas me leve tá? Me leve sempre pro seu mundo embaralhado. Pode ser sem convidados excessivos, somente com as pessoas que, de verdade, querem o nosso bem. Lembra quando te pedi em namoro? Seus olhos borraram naquele quarto [...]
E eu senti uma enorme vontade de te acolher no peito e te proteger daquele ex namorado grosso que ainda é um fantasma. Amor de verdade é isso: Zelo. E eu vou pedir para você usar seus óculos de grau quando fizermos a nossa próxima viagem foda. Porque eu não quero uma vitrine do meu lado, impecavelmente linda e perfeita. Quero alguém de verdade, e, seria tolo da minha parte te achar menos atraente por isso. Porra são seus óculos e eu acho que te deixa com ar misterioso e intrigante. Cola em mim, eu cuido de você quando sentir medo daquelas tempestades vespertinas que bagunçam a cidade. 

Prometo não deixar nada e nem aquele ex, bagunçar o que há de mais precioso em seu peito. Tenho seus fones de ouvido no meu carro, pra quando você enjoar de Radiohead. Baixei o CD da Lana, eu sei que você gosta. E fazer o que você gosta, pra mim é melhor que. Você sabe. Deixo minha camiseta de time para você dormir quando não trouxer pijamas. Sei que sente frio de madrugada. Prometo te buscar às vezes no trabalho, só de bermuda, sem cueca, do jeito que você gosta. Faço Strogonoff de carne, que é seu preferido. Até flambo ele com conhaque, pra te poupar do risco de incendiar a cozinha. Leio seus medos. Se Dotoiévski ficar chato, pulamos para Drummond. Se o seriado da TV a cabo não for bom o suficiente para te fazer sorrir, eu preparo um lanche torto de atum ou peito de peru –para respeitar sua dieta- e te levo no sofá com suco de laranja. Eu compro tulipas amarelas na terça, sem ser necessariamente uma data especial. É que para mim, todas as datas são especiais quando estou com você. 

Só que você partiu antes daquele filme francês que ficou pela metade. Porque eu me esqueci de ser inteiro. No meio daquela nossa discussão que não disse minhas vontades, pegou sua bolsa preta de couro e desceu as escadas as pressas enquanto chamava um taxi. E eu achei que já fosse um troféu ganho. Jurei que ligaria no dia seguinte. Poderia até dizer que tinha certeza disso. Mas, se tem uma coisa que a vida não nos dá, é a certeza. Ela não existe. 

Um amor enjaulado dentro do peito não é amor. Não é suficiente. É como se ele só existisse para você. Quando não verbalizamos, o amor deixa de ser. Não há elo. Diga, seja, aja! E após seis meses, vez ou outra, naquelas madrugas frias e insones ainda me lembro dela. Ela se casou com o ex. Aquele! Aquele que sempre foi um fantasma em nossa relação. Às vezes eles assombram pra valer. Aquele fantasma que sabia se expressar melhor que eu. E hoje eu estou com a Giulia. Conversamos sobre tudo, melhor pecar pelo excesso, que pela falta. Dizem que na intimidade não precisamos verbalizar. Mas acredite, precisamos! Mas isso é outra história.

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