Beladona

Provei tuas folhas e raízes.

Hoje eu te ligue e você nem soube. Caiu na caixa de mensagem e pude ouvir sua voz. Apertou-me o peito e percebi mais uma vez o quanto você faz falta. Meu coração doeu e a tristeza fez morada.

Lembro diariamente de você, do seu sorriso, dos teus olhos brilhando pra mim. Te procuro na rua quando passo naquele bar que íamos aos sábado na Augusta. Quase te ouço no meio da confusão daquele lugar [...]

É clichê e todos dizem que não deveríamos revirar o passado, principalmente o passado que contém um amor que não deu certo, que não vingou. É como colocar o dedo na ferida, dói mais. Mas eu não sou desses que escutam conselhos. Eu sempre visito nosso passado, sempre me perco nas lembranças. Eterna vontade de te abraçar e sentir seu cheiro. E relembro. E dói. E sangro. E os olhos borram. Sempre.

Eu dirigindo, você dormindo... E vez ou outra te olhava de olhos desligados, enquanto ouvia todas as músicas que me ensinou a gostar. Lembro-me do nosso café da manhã com bolo mousse de limão e iogurte, das nossas promessas e de você me dizendo que aquele natal era nosso primeiro de 56 que viriam pela frente.

A oração de São José que você me deu e que carrego na carteira. Meu livro que me presenteou no final do ano. Sua aliança pendurada no meu pescoço. Eu sempre choro quando visito nosso passado, por mais que eu tente ser forte. Eu falho e choro, pra valer. 

Você tem visitado constantemente os meus sonhos e meus olhos continuam apagados e úmidos.

A beladona é uma das plantas mais tóxicas encontradas no hemisfério oriental. A ingestão de apenas uma folha pode ser fatal para um adulto, embora a toxicidade possa variar em função do estado vegetativo da planta, da sua idade e de fatores genéticos e ambientais. A raiz da planta é geralmente a parte mais tóxica.